quarta-feira, 2 de junho de 2010

Tudor Arghezi

O príncipe Tzepesh



No país há paz, e fora também;
os confins estão calmos como nunca,
e hoje, nos campos seguros,
os lavradores cantam e sulcam a terra.

No início da doce primavera
o povo recorda as lendas
e as folhas tremem nos ramos celestes -
também, em segredo, tremem os boiardos.

É claro, o Príncipe pensativo
está decidido a purificar o mundo.
Enfia uma estaca até ao pescoço dos homens
para que o cu tenha uma campainha.

Não há piedade nem demoras
para quem se opõe à justiça.
Religioso, o Príncipe, a cada estaca,
prepara as velas e o pudim de trigo.

Respeitador dos bons costumes,
para os grandes - sejam conterrâneos ou turcos -
tem estacas diferentes, forquilhas soberbas
que distinguem as suas hierarquias.

Podem ver-se os vizires nas alturas,
empalados sobre majestosos álamos,
e para os santos, os padres e os bispos
tem madeira santa e perfumada.

E é aqui que as Cortes do país se reúnem
para agradecer ao Príncipe a paz.
Ele está no seu trono. Silencioso.
A alma coberta de adargas.

E enquanto amigos e cortesãos com armaduras
brindam e erguem as taças de vinho
em honra das façanhas de Sua Majestade,
o Príncipe pensa nas estacas que merecem.



(Versão minha a partir da tradução castelhana de Darie Novaceanu, reproduzida em Antología de la poesía rumana contemporánea, Verbum, Madrid, 2004, p. 28).

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